Qual
sua opinião sobre os resultados das CPIs do leite?
Recentemente o relatório da CPI do leite foi dado como encerrado.
Nele vários diagnósticos foram levantados, em forma de um raio
x que aponta a responsabilidade de cada setor da cadeia leiteira.
Infelizmente algumas ações que foram propostas irão sofrer retaliações
por parte de grandes empresas, principalmente porque o próprio
modelo econômico do País não dará sustentação para as decisões
das CPIs.
Como
você analisa a pré-fixação do preço do leite entre o produtor
e o laticínio?
Criou-se um contrato para estabelecer um preço de compra entre
o laticínio e o produtor. Não tendo nenhum compromisso do outro
lado da cadeia, ou seja, do supermercado e do consumidor em comprar
um leite por um preço também contratado; não tem como o setor
intermediário, que é a indústria, se comprometer por meio de uma
pré-fixação. Ela estaria colocando a faca no próprio pescoço,
uma vez que boa parte dessas indústrias trabalha com baixa remuneração,
apesar de algumas dessas empresas terem sido caracterizadas como
vilãs, segundo levantamento das CPIs.
Quem
é o grande manipulador dos preços do leite?
Na verdade, o grande vilão da história não é a indústria, nem
o intermediário; mas sim o comércio. Existe uma lei de mercado,
de oferta e procura, que detém o controle da situação. Somente
com política de preço não se consegue fazer com que o consumidor
leve mais leite para casa. Ele consome conforme suas necessidades.
Quando a oferta é maior que a procura dificilmente se consegue
aumentar o preço.
Dentro de um contexto geral, como está a situação do leite?
Estamos atravessando uma crise econômica mundial, principalmente
na América Latina, e o Brasil não é auto-suficiente; ele depende
do que se passa com seus países vizinhos, para que sua economia
acelere. Tudo reflete economicamente sobre nossa produção. Não
somos um País exportador de leite, a nossa matéria prima ainda
não tem a qualidade suficiente para a exportação e justamente
por não sermos tradicionais exportadores, o excesso de produção
em algumas épocas do ano tem que ser absorvido dentro do próprio
País; não tem como exportá-lo. Isso serve para regular o mercado
no momento de baixa produção e também pode se manifestar em forma
de excesso de produção.
Neste
caso, o governo poderia ajudar financiando a estocagem?
O governo não se habilita a fazer nada neste segmento. Financiar
estocagem pra que? Se fosse para exportação, correto. Mas se for
para o mercado interno, esta estocagem um dia terá que voltar
para o mercado consumidor. E quando voltar, estará acrescida de
juros, pagos para quem a financiou, mais despesas de armazenagem,
entre outros custos. Esta estocagem só será viável se em determinado
momento a produção for muito inferior e o estoque for o regulador
da diferença; ou se houver exportação.
Como
caminha a exportação dos produtos lácteos no Brasil?
Nossa exportação ainda se apresenta muito tímida. Em conversas
com empresas que estão tentando exportar ou já exportam em pequena
quantidade, (Cemil, Paulista), percebemos que o grau de dificuldade
é muito grande e a nossa produção muito pequena. A produção do
Frutalat, por exemplo, às vezes não atenderia a demanda de um
consumidor externo; além de termos consciência de que a qualidade
de nossa matéria prima não está preparada para exportar. Salvo
alguns produtores que produzem com ótima qualidade; a maioria
deixa a desejar.
Qual
a solução para o setor?
Melhorar o desenvolvimento econômico do Brasil, por meio do aumento
do índice de empregos no País, aumento da renda per capta do consumidor
brasileiro, aumento do leite na merenda escolar e em programas
sociais do governo. A questão é que mesmo sem o subsídio do governo,
existem produtos como cerveja e refrigerantes, que têm melhor
aceitação pelo mercado; já o leite entra como alimento, pertencente
a outro segmento, que sofre as dificuldades decorrentes do desenvolvimento
econômico do País.
Então,
podemos definir algo quanto ao preço do leite nesta entressafra?
Não existe uma resposta única, tendo em vista que o preço é monitorado
pela lei de mercado. Tudo são possibilidades. Atualmente a Cofrul
paga ao produtor um preço que varia entre R$0,36 e R$0,45 centavos
de Real, dependendo das bonificações por quantidade e qualidade.
Imaginávamos que a oferta nesta época (abril/maio), estaria bem
menor que a procura; porém o que transparece das grandes cadeias
de supermercados é que a demanda pelo leite ao preço que ele está
no momento não é tão grande e, conseqüentemente, não estamos conseguindo
melhorar o preço de venda do leite para os supermercados. Enquanto
a grande pressão por parte dos supermercados é para que os preços
se estabilizem o sejam inferiores aos que estão sendo praticados
no momento. Acreditamos que esta pressão pode ser simplesmente
uma forma de inibir o aumento do preço; como pode ser também uma
realidade de mercado, que às vezes não queremos acreditar, ou
seja, o consumidor está com baixo poder aquisitivo e assim, está
comprando menos.
Você
é otimista quanto à pecuária leiteira brasileira?
Tenho uma expectativa de que o preço do leite não pode baixar.
Se acontecer de os preços irem abaixo dos que estão sendo pagos
ao produtor, a atividade torna-se inviável. De forma alguma gostaria
que isso acontecesse. Mesmo no verão, quando a produção é maior,
o preço deveria ser mantido. Assim, seria o momento de o produtor
equilibrar suas contas, tendo em vista que o preço pago na entressafra
é praticamente o custo. Resumindo, o produtor teria que empatar
agora, para obter lucros no verão, porém não é esta a realidade.
Existe também tentativas da CNA(Confederação Nacional da Agricultura)
e demais federações estaduais e instituições em busca da estabilização
do preço do leite, a fim de dar sustentação à classe produtora,
porque da forma como se encontra o setor, o produtor vai desestimulando,
haja visto o desmonte de grandes plantéis leiteiros em todo o
Brasil.
Quem
vai ficar no mercado?
Quem for mais competente. Não significa que seja nem o grande
nem o pequeno, e sim aquele que conseguir produzir mais com menos
custo, ou no mínimo produzir a mesma quantidade com custo mais
baixo.