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Entrevista: João Del Rei da Costa - presidente da Cofrul

Qual sua opinião sobre os resultados das CPIs do leite?
Recentemente o relatório da CPI do leite foi dado como encerrado. Nele vários diagnósticos foram levantados, em forma de um raio x que aponta a responsabilidade de cada setor da cadeia leiteira. Infelizmente algumas ações que foram propostas irão sofrer retaliações por parte de grandes empresas, principalmente porque o próprio modelo econômico do País não dará sustentação para as decisões das CPIs.

Como você analisa a pré-fixação do preço do leite entre o produtor e o laticínio?
Criou-se um contrato para estabelecer um preço de compra entre o laticínio e o produtor. Não tendo nenhum compromisso do outro lado da cadeia, ou seja, do supermercado e do consumidor em comprar um leite por um preço também contratado; não tem como o setor intermediário, que é a indústria, se comprometer por meio de uma pré-fixação. Ela estaria colocando a faca no próprio pescoço, uma vez que boa parte dessas indústrias trabalha com baixa remuneração, apesar de algumas dessas empresas terem sido caracterizadas como vilãs, segundo levantamento das CPIs.

Quem é o grande manipulador dos preços do leite?
Na verdade, o grande vilão da história não é a indústria, nem o intermediário; mas sim o comércio. Existe uma lei de mercado, de oferta e procura, que detém o controle da situação. Somente com política de preço não se consegue fazer com que o consumidor leve mais leite para casa. Ele consome conforme suas necessidades. Quando a oferta é maior que a procura dificilmente se consegue aumentar o preço.

Dentro de um contexto geral, como está a situação do leite?
Estamos atravessando uma crise econômica mundial, principalmente na América Latina, e o Brasil não é auto-suficiente; ele depende do que se passa com seus países vizinhos, para que sua economia acelere. Tudo reflete economicamente sobre nossa produção. Não somos um País exportador de leite, a nossa matéria prima ainda não tem a qualidade suficiente para a exportação e justamente por não sermos tradicionais exportadores, o excesso de produção em algumas épocas do ano tem que ser absorvido dentro do próprio País; não tem como exportá-lo. Isso serve para regular o mercado no momento de baixa produção e também pode se manifestar em forma de excesso de produção.

Neste caso, o governo poderia ajudar financiando a estocagem?
O governo não se habilita a fazer nada neste segmento. Financiar estocagem pra que? Se fosse para exportação, correto. Mas se for para o mercado interno, esta estocagem um dia terá que voltar para o mercado consumidor. E quando voltar, estará acrescida de juros, pagos para quem a financiou, mais despesas de armazenagem, entre outros custos. Esta estocagem só será viável se em determinado momento a produção for muito inferior e o estoque for o regulador da diferença; ou se houver exportação.

Como caminha a exportação dos produtos lácteos no Brasil?
Nossa exportação ainda se apresenta muito tímida. Em conversas com empresas que estão tentando exportar ou já exportam em pequena quantidade, (Cemil, Paulista), percebemos que o grau de dificuldade é muito grande e a nossa produção muito pequena. A produção do Frutalat, por exemplo, às vezes não atenderia a demanda de um consumidor externo; além de termos consciência de que a qualidade de nossa matéria prima não está preparada para exportar. Salvo alguns produtores que produzem com ótima qualidade; a maioria deixa a desejar.

Qual a solução para o setor?
Melhorar o desenvolvimento econômico do Brasil, por meio do aumento do índice de empregos no País, aumento da renda per capta do consumidor brasileiro, aumento do leite na merenda escolar e em programas sociais do governo. A questão é que mesmo sem o subsídio do governo, existem produtos como cerveja e refrigerantes, que têm melhor aceitação pelo mercado; já o leite entra como alimento, pertencente a outro segmento, que sofre as dificuldades decorrentes do desenvolvimento econômico do País.

Então, podemos definir algo quanto ao preço do leite nesta entressafra?
Não existe uma resposta única, tendo em vista que o preço é monitorado pela lei de mercado. Tudo são possibilidades. Atualmente a Cofrul paga ao produtor um preço que varia entre R$0,36 e R$0,45 centavos de Real, dependendo das bonificações por quantidade e qualidade. Imaginávamos que a oferta nesta época (abril/maio), estaria bem menor que a procura; porém o que transparece das grandes cadeias de supermercados é que a demanda pelo leite ao preço que ele está no momento não é tão grande e, conseqüentemente, não estamos conseguindo melhorar o preço de venda do leite para os supermercados. Enquanto a grande pressão por parte dos supermercados é para que os preços se estabilizem o sejam inferiores aos que estão sendo praticados no momento. Acreditamos que esta pressão pode ser simplesmente uma forma de inibir o aumento do preço; como pode ser também uma realidade de mercado, que às vezes não queremos acreditar, ou seja, o consumidor está com baixo poder aquisitivo e assim, está comprando menos.

Você é otimista quanto à pecuária leiteira brasileira?
Tenho uma expectativa de que o preço do leite não pode baixar. Se acontecer de os preços irem abaixo dos que estão sendo pagos ao produtor, a atividade torna-se inviável. De forma alguma gostaria que isso acontecesse. Mesmo no verão, quando a produção é maior, o preço deveria ser mantido. Assim, seria o momento de o produtor equilibrar suas contas, tendo em vista que o preço pago na entressafra é praticamente o custo. Resumindo, o produtor teria que empatar agora, para obter lucros no verão, porém não é esta a realidade. Existe também tentativas da CNA(Confederação Nacional da Agricultura) e demais federações estaduais e instituições em busca da estabilização do preço do leite, a fim de dar sustentação à classe produtora, porque da forma como se encontra o setor, o produtor vai desestimulando, haja visto o desmonte de grandes plantéis leiteiros em todo o Brasil.

Quem vai ficar no mercado?
Quem for mais competente. Não significa que seja nem o grande nem o pequeno, e sim aquele que conseguir produzir mais com menos custo, ou no mínimo produzir a mesma quantidade com custo mais baixo.

 

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